Postura do Ministério das Relações Exteriores não repercutiu bem nas comunidades religiosas
Por Jarbas Aragão
A visita do ministro das Relações Exteriores, Aloysio Nunes, aos territórios palestinos não foi vista com bons olhos por diferentes grupos religiosos no Brasil.
Segundo divulgou a imprensa, o Brasil foi convidado para fazer parte de um grupo internacional que serviria como “mediador da paz” entre israelenses e palestinos. Após Donald Trump anunciar o reconhecimento de Jerusalém como capital de Israel, a Autoridade Palestina (AP) passou a dizer que não aceitaria mais os Estados Unidos como intermediário dos acordos entre os dois países.
Na reunião que teve com o presidente da AP Mohmoud Abbas, o primeiro-ministro Rami Hamdallah e o ministro palestino das relações exteriores, Riyad Maliki, o chanceler brasileiro ouviu vários pedidos. Além da possibilidade de servir como “mediador”, foi requerido que o Brasil aumente a importação de produtos palestinos visando fortalecer a economia do país e “facilitar a sua independência”.
Procurados pelo portal Gospel Prime, representantes de três organização, uma evangélica, uma judeu-messiânica e uma judaica, demonstraram sua insatisfação com essa suposta “nova relação” do Brasil com a Autoridade Palestina. Na verdade, Temer apenas retoma o que foi iniciado pelo ex-presidente Lula em 2010, quando o Brasil reconheceu a Palestina como nação independente e doou 10 milhões de dólares para o Hamas, além de permitir a construção de sua embaixada em Brasília, a primeira do tipo fora do mundo muçulmano.
Pastores
O Conselho Apostólico Brasileiro (CAB), na pessoa do pastor Paulo de Tarso Fernandes, emitiu uma nota pública sobre a possibilidade de o Brasil servir como “mediador da paz” entre israelenses e palestinos e os pedidos feitos pela Autoridade Palestina a Aloysio Nunes.
O CAB, que reúne pastores, apóstolos e líderes de diversas igrejas do país, lembra que já havia levado ao chanceler, em nome dos evangélicos que eles representam, um pedido para que o Brasil revisse sua postura contrária a Israel nas votações nas Nações Unidas e na UNESCO.
Também destaca que “A posição do grupo que ocupa os principais postos da Diplomacia brasileira historicamente defende a solução de dois estados, porém, nós cristãos brasileiros, queremos mudar esta posição já que é contrária à nossa maneira de pensar. Nosso governo precisa refletir o pensamento do seu povo que é eminentemente cristão e aliançado com o povo de Israel eternamente”.
O tom do Conselho demonstra sua preocupação com as consequências espirituais desses tipo de conduta: “Manifestamos nosso absoluto respeito aos que estão investidos de autoridade, porém como uma Voz Profética em nossa nação advertimos que os juízos que o Brasil tem sofrido, toda a crise econômica, moral, ética, pode ainda se agravar mais, se nos colocarmos como nação contra os planos de Deus”.
Judeus Messiânicos
Márcio Costa é um judeu messiânico brasileiro que mora em Jerusalém. Ele está à frente do ministério “Igrejas em Defesa de Israel” e acredita que o alinhamento do Brasil com a Palestina é ‘sinal dos tempos’. Procurado pelo Gospel Prime, disse: “Essa polarização mundial, com países se alinhando com países em função de uma agenda espiritual. Países de direita ou de esquerda (isso não é importante) se alinhando em oposição a Israel e ao Plano de Deus. É isso trará consequências”.
Comunidade judaica
Não foram apenas os evangélicos que expressaram sua contrariedade. Os líderes judeus responsáveis pela Associação Sionista Brasil-Israel (ASBI) emitiram uma extensa nota de repúdio, onde lê-se: “O Brasil veste mui bem a camisa dos que engrossam o coro do lugar comum que habita a condução do rebanho, não sendo nada surpreendente que a idiossincrasia do “homem cordial” seja transposta à cena da política internacional até mesmo pelas mãos de um ex-guerrilheiro como Aloysio Nunes, que até pouco tempo atrás coonestou um radicalismo costurado com bala e sangue, justificando-se nisto pela luta contra a ditadura militar, assim como Dilma, ao mesmo tempo em que, por outro lado, alinhavam-se com outras ditaduras de triste memória, e, até, atualidades anacrônicas como Cuba e Venezuela”.
Assinada pelo seu presidente, o advogado Félix Soibelman, o manifesto pede que o governo Michel Temer faça valer o artigo 4º, VIII da Constituição brasileira onde “está capitulado o repúdio ao terrorismo”. Sendo assim, “é impositiva a condenação do Hamas pelo governo brasileiro, na medida em que este é um grupo cujos estatutos constam a destruição do Estado de Israel, a negação do Holocausto e que pratica diversos atentados contra civis, o que é perfeitamente enquadrável como terrorismo pela própria lei brasileira que o define como tal os atos praticados por motivo de ódio a um governo estrangeiro, em plena xenofobia (art. 2º da lei 13.260), e atentam contra a integridade e a vida de civis indiscriminadamente (inciso V do mesmo artigo)”.
Resgatando o episódio ocorrido em 2014, em que o governo brasileiro condenou o revide de Israel após ataques vindos de Gaza, a ASBi ecoa a postura do então porta-voz da chancelaria de Israel, Yigal Palmor, que classificou o Brasil como “anão diplomático”.
Finaliza asseverando: “O político israelense acertadamente apontou o ‘relativismo moral atrás do movimento’. Ele diz respeito a todas as ações genocidas, as ditaduras compaginadas pela esquerda no alinhamento que promove entre os blocos antiamericanos, as tiranias sem fim africanas, islâmicas, etc, que cometem barbaridades e não recebem nenhuma condenação brasileira, sem nenhuma recusa de seus embaixadores em solo brasileiro. Enfim, a todo o estofo do marxismo cultural agora timbrado pelo ‘homem cordial’ brasileiro no convite de Abbas a Aloysio, aquinhoados ambos por um acento ideológico sombrio que cria falsos oprimidos e meneia a cabeça de assassinos como foi Kadafi, o governo iraniano e todo o elenco de déspotas sanguinários enquanto aponta o dedo contra Israel”.
Data : 2018-03-03
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